Design: Conciliando Ornamento e Utilidade

A Revolução Industrial teve início no século XVIII, na Inglaterra, com a mecanização dos sistemas de produção. Neste período, surgia o modelo econômico capitalista, no qual a burguesia industrial buscava avidamente por maiores lucros, menores custos e uma produção mais acelerada, para dessa maneira aumentar o seu capital e assim sua mais-valia.
Dessa forma esta buscou diversas alternativas para não só intensificar a manufatura, assim como manter a qualidade de seus produtos, para que mais pessoas pudessem ter acesso a estes materiais sem que fosse necessário pagar preços astronômicos, como eram cobrados em produtos únicos e artesanais. Isto impulsionou a mudança estética dos bens de consumo, procurando matérias primas mais em conta que ao aprimoradas ficassem esteticamente parecidas com as peças feitas com materiais mais caros e ainda assim tivessem uma durabilidade tão boa quanto.
Logo quando se iniciaram a mudanças no setor industrial, surgiram diversas problemáticas, pois o terceiro setor visava mais a utilidade dos bens de consumo, já que esta presava pela rápida produção de grandes quantidades de produtos no menor custo possível acabava que as peças não saiam com tanta qualidade quanto os artefatos artesanais, apesar de as indústrias terem sido criadas para acelerar o processo primordialmente elas queriam manter o padrão na confecção, entretanto, isso não foi algo que conseguiu ser realizado logo de início, já que, uma maquina não teria a capacidade de projetar e nem tão pouco fazer os ornamentos finos que um artesão faria. Isso foi motivo de rejeição por parte de muitos. Fato este abordado por Rafael Cardoso em Uma Introdução a História do Design:
Na verdade a mecanização dos processos industriais geralmente não acarretava uma melhoria da qualidade, mas apenas a capacidade de produzir mais quantidade com menos operários (página 10).
Sendo assim, surgiu à necessidade de uma reorganização no setor industrial, como explica Rafael Cardoso:
Em vez de contratar muitos artesãos habilitados, bastava um bom designer para gerar o projeto, um bom gerente para supervisionar a produção e um grande número de operários sem qualificação nenhuma para executar as etapas, de preferência como meros operadores de máquinas (Uma Introdução a História do Design, página 34.).
O designer tinha como papel criar projetos que otimizassem a produção nas etapas de execução assim como aperfeiçoar o ornamento da peça ao mesmo tempo conciliasse com a sua utilidade, de tal forma que visasse acima de tudo o lucro do patrão, visto que naquela época vivia-se em um período de transição em que nem o extremamente rebuscado agradava totalitariamente e da mesma forma a escassez de ornamento também era de total apreço. Pois como disse John Heskett - “Ornamento não era visto meramente como um acréscimo, mas como tendo uma necessidade própria” (Desenho Industrial, página 21).
Consequentemente, os designers foram em busca de múltiplas propostas que fossem viáveis a nova era, na qual uma das ideias que se estabeleceu foi o livro de padrões, determinado por uma coleção de gravuras produzidas em grande quantidade através de novos métodos de impressão mecânica, nelas continham designs os quais poderiam ser aplicados repetidas vezes e em diferentes lugares o que facilitava uma produção em série.
Outra forma de adaptação adicionada ao meio de produção foi à imitação, na qual os designers utilizavam-se de produtos que já existiam e faziam grande sucesso, porém  eram muito caros, para estuda-los e assim poder fornecer uma peça similar, mas feita com um material que as tornasse mais acessível, como foi o caso da porcelana chinesa que após muito estudo, Meissen conseguiu produzir uma louça idêntica a partir da argila.
Nesse mesmo período como explica Jonh Heskett “Embora a utilidade fosse constantemente enfatizada, o ornamento também era aceito como uma função integral. O problema era estabelecer uma harmonia entre os dois.” (Desenho Industrial, página 23) devido à dificuldade até mesmo dos próprios designs de estabelecer uma harmonia entre os dois fatores de qualidade de um produto que fosse agradável aos olhos do consumidor e também ao bolso do patrão, visto que se o custo de produção fosse alto não seria fabricado, devido a ganância que estava vinculada ao lucro que o patrão teria ao final do processo.
Foi a partir de então que surgiu uma série de movimentos na Inglaterra que buscavam a criação de oficinas que confeccionassem produtos artesanais ou semi-artesanais. Um deles denominado Arts and Crafts, (Artes e ofícios) como explica Rafael Cardoso, em uma Introdução a História do Design:
 Os integrantes buscavam promover maior integração entre projeto e execução, relação mais igualitária e democrática entre os trabalhadores envolvidos na produção, e manutenção de padrões elevados em termos de qualidade de materiais e acabamentos (página 83).
Esse movimento veio para corroborar com estabelecimento da estética e autenticidade vinculadas a utilidade. Essa reforma foi idealizada pelo artista William Morris, este foi um dos intelectuais da época que se incomodou com o facto da indústria estava acabando progressivamente com a humanização do trabalho artesanal e sua qualidade, além de se preocupar com a poluição ambiental intensificada palas industrias, devido a mecanização do sistema que apesar de gerar mais lucro, por outro lado afetava agressivamente o ambiente assim afetando a longo prazo os indivíduos que ali trabalhavam e viviam. Com este movimento Morris não apenas lutava pela questão do ornamento artesanal, mas por uma questão humanística do sistema industrial.
Diante do incomodo pessoal de Morris várias associações foram criadas no mesmo período, como por exemplo, a Century Guild, a Art Worker’s Guild, a Guild and School of Handicraft e a Arts as Crafts Exhibition Society (uma exposição de tapeçaria, móveis, estofados e mobílias artesanais). Todas essas associações visavam fazer uma ligação perante o ensino da arte e a nova organização do trabalho prevista pelo novo modelo industrial capitalista de produção. Presavam por um alto grau de especulação na execução e no acabamento dos produtos.
Com os movimentos modernistas e o incentivo da escola de Staatliches-Bauhaus escola de design e arquitetura vanguardista alemã passou a ser mais evidente a conciliação entre produção artística e industrial, visto que no período modernista a produção do design preconizava a funcionalidade e a satisfação das necessidades sociais. Neste processo devido às restrições impostas pela máquina, a orientação estética passou a ser subordinada a forma e à função.
O grande dilema da época modernista era fazer com que os grandes capitalistas intendessem que o design vinha para somar e não para atrapalhar, pois as pessoas que eram dessa área acabavam tendo mentes extremamente abertas a ideias e criações de ornamentos cada vez mais ousados para uma sociedade em que estava acostumada a ter um conceito de beleza o qual não se modificava. Sendo assim, as novas criações assustavam os donos dos meios de produção por não possuírem no novo a certeza de que aquela ideia daria lucros, ao contrario dos modelos já vigentes que eram uma certeza.
Vivia-se em uma época de movimentos vanguardistas como, por exemplo, o cubismo, o futurismo e o abstracionismo, que mexiam com a cabeça e a imaginação das pessoas mais eram artes nunca vistas e que vinham para testar os olhos e o interesse dos públicos, assim seria mais fácil adentrar com essas novidades no mundo do comércio, já que não seria mais novo aos olhos do consumidor. Além disso, estes movimentos vinheram reinventar e remodelar as máquinas utilizadas nas indústrias.
Foi a partir desses movimentos que o valor estético começou a pesar na balança tanto quanto sua utilidade, quando falamos do mundo comercial, quando se tratado da tecnologia utilizada para montar a maquina que irá produzir as peças para o terceiro setor, o foco fica completamente detido na funcionalidade, agilidade e custo. Entretanto, como para um meio de produção gerar mais-valia ele precisa do conjunto completo, visar os dois lados à linha de montagem e o consumidor final, o capitalista necessita de uma figura que faça essa união.
Com isso durante o século 19 o design foi o responsável por reorganizar e racionalizar o tempo de fabricação nas indústrias, introduzindo a tecnologia no processo de maneira racional – metodologia projetual – prática e eficiente, gerando maior capital para o dono do meio de produção, já que se intensificou a linha de montagem e a quantidade de peças prontas ao final assim como melhorou o ornamento, a durabilidade e a utilidade dessas para o consumidor.

Referências Bibliográficas:

Arts and Craft (1880-1900) disponível em: <http://www.tipografos.net/designers/arts-and-crafts.html> Acesso em: 27 de novembro de 2018.
CARDOSO, Rafael Uma Introdução à História do Design. São Paulo: Ed. Blucher, 2008, 3.a ed. P. 26 a 43 e 76 a 85
HESKETT, John. Desenho Industrial. Brasília: José Olympio, 1998. P. 10 a 26.
PANTALEÃO, Lucas. PINHEIRO, Olympio. Estética e ornamento: uma antropologia do design no contexto histórico da arte. Bauru – SP. UNESP. 2009. Disponível em: < https://www.researchgate.net/publication/222009679> Acesso em: 27 de novembro de 2018.

Texto desenvolvido por Natália Moreira Café sob a orientação do Prof. Dr. Rodrigo Boufleur, para a disciplina Introdução ao Estudo do Design. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design” (http://estudossobredesign.blogspot.com) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Artes - Bacharelado em Design - Novembro de 2018.